Por Paulo Almeida
A Gávea é muito mais do que um dos bairros mais charmosos e históricos da Zona Sul carioca. É um ativo ambiental e urbano estratégico — um verdadeiro pulmão verde do Rio de Janeiro, que desempenha papel essencial na regulação climática, na qualidade do ar e na qualidade de vida de milhares de moradores.
Em meio a uma cidade que perde, ano após ano, parte de sua vegetação nativa para a urbanização desordenada, a Gávea resiste como um exemplo de equilíbrio entre natureza e desenvolvimento. Limitada pela Floresta da Tijuca, pelo Jardim Botânico e pela Lagoa Rodrigo de Freitas, a região concentra uma das maiores proporções de cobertura vegetal por habitante na Zona Sul. Segundo dados da Prefeitura do Rio de Janeiro, o bairro está inserido em uma das áreas com índice médio de 74 m² de área verde por morador, número quase três vezes superior à média da cidade, que gira em torno de 27 m²/habitante.
Esse equilíbrio é vital. De acordo com o Programa de Monitoramento Contínuo da Cobertura Vegetal da Cidade do Rio de Janeiro, entre 2018 e 2023, o município perdeu cerca de 2,7% de sua vegetação urbana, especialmente em regiões de expansão imobiliária. Em contrapartida, bairros como a Gávea, que mantêm conectividade com áreas florestadas, funcionam como barreiras naturais contra o avanço das ilhas de calor — que hoje já elevam a temperatura média da cidade em até 4,5 °C em determinados pontos da Zona Norte.
Estudo recente do MapBiomas 2024 aponta que apenas 6,9% das áreas urbanas brasileiras são cobertas por vegetação. No Rio, o número é um pouco melhor — 13,1% —, mas ainda insuficiente para garantir resiliência climática diante das mudanças ambientais em curso. Essa realidade reforça o papel da Gávea como um laboratório vivo de sustentabilidade urbana, com um patrimônio natural que contribui diretamente para a retenção de carbono, a recarga de lençóis freáticos e o controle de enchentes.
Preservar a Gávea é preservar a respiração da cidade. É proteger um ecossistema que, além de seu valor ambiental, impacta positivamente a saúde física e mental dos cariocas. Pesquisas da Fiocruz indicam que moradores que vivem próximos a áreas verdes têm 20% menos propensão a doenças respiratórias e 15% mais sensação de bem-estar e pertencimento comunitário.
Entretanto, a pressão imobiliária e a redução gradual dos espaços públicos arborizados ameaçam esse equilíbrio. De 2010 a 2023, o número de praças com vegetação significativa na Zona Sul caiu 18%, segundo o Instituto Pereira Passos. Cada árvore retirada para dar lugar a concreto é um passo atrás na agenda de sustentabilidade urbana que o Rio precisa consolidar.
Por isso, é urgente posicionar a Gávea como referência em preservação urbana e educação ambiental. Iniciativas como o reflorestamento de encostas, a criação de corredores ecológicos ligando o Parque da Cidade ao Jardim Botânico e o estímulo à arborização participativa podem transformar o bairro em um símbolo da transição ecológica carioca.
A Gávea é mais do que um bairro — é um símbolo do que o Rio pode ser quando valoriza seus ativos naturais. Cuidar dela é cuidar do futuro do Rio de Janeiro.
Fontes do texto: Prefeitura do Rio de Janeiro – Programa de Monitoramento da Cobertura Vegetal | MapBiomas 2024 | Fiocruz 2023 | Instituto Pereira Passos 2023
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